sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A Borboleta Azul


Ela baila no azul celeste
Com mansidão e delicadeza
Deixando-se levar de oeste a leste
Libertando-se com a proeza

Permite-se contemplar pelo cortiço e sarjeta
É suave, doce e gentil
Vem graciosa a bela borboleta.
Esvoaçando pelo azul anil

É verdade que pouco viverá
De fases sua vida é repleta
A morte jamais esperará.
Quer ser feliz e completa.

Esvoaça, Óh serzinho!
Deixe seu rastro de ternura
Traceje seu próprio caminho
Deite a vida á quem procura.

A criança enche os olhinhos
Quando vê a borboleta
_Mamãe, olha o bichinho.
Grita alto o espoleta.

Antes, na outra face
Ninguém queria tocá-la
Se no casulo a encontrasse
Iria cruelmente matá-la.

Ela transformou-se ligeiramente
Possuí uma esplendorosa beleza
Que se desprende confiantemente
Esbanjando alegria e leveza.

Pousada na flor
Abre as asas enamoradas
Contemplando com amor
A perfeição enfileirada

O animalzinho encantado
Alça um voo incolor
O presente que lhe foi dado
Chegou ao fim, sem nenhuma dor.

Erros. Tentativas. Mortes. Afogamentos.


Vou caminhando de vagar
Os pés bem presos ao chão
Quisera tanto poder voar
Sentir no corpo a emoção.

Fui podada como a flor
Da maneira mais cruel
Também regada com amor
Adoçada com mel.

Lamentei por demais
Chorei por dor e aflição
Deixei morar em mim tantos ais
Que encobriram minha visão

Permiti-me soterrar
Ter meu destino violado
Quis privar-me de errar
Tornei meu espírito calado.

Lancei-me no precipício
Lacrei-me no meu interior
Afugentei qualquer indício
De aconchego e calor.

Errei. Da maneira mais inocente.
Tentei. E falhei em detrimento.
Matei-me. De uma forma irreverente.
Afoguei. Acolhendo o sofrimento.

Chorei. Como a doce criança.
Permiti. Que ditassem meu ser.
Brinquei. Com a fé e esperança.
Lapidei-me. Para enfim crescer.

A maturidade trouxe-me novos olhos
Vejo como um jovem ancião
Todas as gotículas desse abrolho
Ensinaram-me uma lição.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

"A felicidade é a maior necessidade e a melhor recompensa."
Thaís Milani

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Areia Movediça


Passos lentos e vadios.
Deixo impressos no chão
Pés cansados, contudo sadios
Apontando minha direção

A fina areia molhada
Embevece minha emoção
Entre os dedos, perpassada.
Desprende a suave canção

Ouço as ondas imponentes
Alcançando meus passos,
Apagando eternamente.
Os momentos já escassos

Os pés são levados
Ao fundo do mar audaz.
Vou perdendo meu passado
A lembrança é fugaz.

A brisa toca minha face
Banha as lágrimas sem cessar;
Enriqueço o disfarce
Intentando não se deixar notar.

Não consigo me conter
E detenho-me bruscamente
É preciso desfazer
Retirar o elo da corrente;

É justo ao meu ser
Encontrar o esquecimento?
Poderia eu viver,
No asco de tal julgamento.

Compreendo a frigidez
Presente em tal ato.
É insana a acidez
Que compõe nosso abstrato.

Sopeso o infinito mar
Com cólera na consciência
Jamais poderei frear
O fim de minha existência.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Rua da Finitude


Trago na face traços
Maculas da vivência;
Nos enfadonhos braços
O peso da vida é uma incumbência.

Trago nos olhos paciência
Digna do ser senil.
Olhos densos de experiência
Distantes do vigor juvenil.

Marcas profundas e esguias
Povoam o rosto de plenitude
Surgindo todos os dias
Moradoras da Rua Finitude.

Sua moradia simplória
Distante de qualquer glória.
Encontra-se ao fim da Rua.
Além da casa dos 80, flutua.

A encolhida serenidade
Repousa na alma anciã
Coberta de liberdade
Acrescida toda manhã

Acolho no peito a vida
Outrora repleta de esplendor
O desgaste da lida
Substituiu-a por um doce amor

Tempo como és doce.
Se amargo fosse
Cessaria de provar.

Tempo como és breve.
Corres de leve
Sem nada espreitar.

Aprendi! Amiga Hora.
Se não viver o agora
Nada há de restar

As maculas em mim remanescentes
Formam caminhos serenamente
Todos prontos a trilhar

As mãos enrugadas de sabedoria
Refletem a alegria
De quem tem a ensinar

A tal envelhecida alma
Florescida de calma
Vê sutilmente o fim se aproximar.

Compreendo em meu reflexo
O momento tão complexo
Não tardará chegar.

Como flor colhida da terra.
A existência se encerra
Quando o exausto coração estancar.

domingo, 15 de agosto de 2010

"Não deixe que os medos sejam seus melhores amigos. No entanto conheça-os a ponto de neutralizá-los"
Thaís Milani

sábado, 14 de agosto de 2010

De Mão em Mão


Lendárias mãos
Pequeninas e fechadas
Rechonchudas e desajeitadas
Espalmadas no chão

Estampam inúmeros sentimentos
Alegria ou detrimento
Raiva ou consternação
Quão sofridas e calejadas, são algumas mãos.

Curtinhas e arredondadas.
Das crianças brincando nas ruas
Fininhas e desgastadas
Rosadas,negras e pálidas, todas nuas.

Mãos requerem cuidados,
Necessita-se mantê-las limpinhas.
O tal órgão estimado
Jamais deve sair da linha.

Marcadas com furtos e assassinatos
Juntam-se infantis, na clemência do perdão
Reflexo hábil e nato
Que oferece galardão.

São carinhosas e meigas
Austeras e leigas
Firmes e fortes
Lidas com azar ou sorte.

Mãos são o contato
Da alma com nosso ato
Senis conselheiras
Esquecidas às eiras

Mãos são únicas
Ventem-nos como túnicas
Seus caminhos, quantos são!
Filetes de suor que radiam emoção.

Decoradas com unhas expressivas
Tantas vezes corroídas
Estão a nós passivas
No intento da saída.

Mãos, muito te precisamos
Ao labuto te lançamos
Esquecendo a afeição.
Sendo tu tão generosa, há de dar-nos redenção.

Mãozinhas carentes e geladas
Aprendendo tão pequenas
A amar e sem serem amadas
Óh! Que falta faz Atenas.

Mãos são a extensão d’alma
Repletas de fadiga e a calma
Como as de um ancião
Severas em suas rugas, que ostentam mansidão.

Mãos joviais e alertas
Destrancam portas, velozes e espertas
Para livres caminhar
Na juventude pensam que tudo podem alcançar.

Mãos! Como são julgadas.
Por muitos, abandonadas
Em ausência de oração
São necessárias? Óh!Como são.

Mãos de honestidade
Mãos de dedicação
Mãos de castidade
Mãos de doação

Os dedos são vielas
Se interando a calçada
Pelas ondas presentes nelas
Nossas vidas são marcadas

A mão é um presente dado
Para um ser abençoado
Oferecer a gratidão
Extirpando a dor, em troca da boa ação.

Dádiva


A ilusão do sonho
Surge-nos á grande ganho
Inflama n’alma o amor.

É como ave que paira no céu
Sem cessar
Flor que desabrocha no chapéu
Jamais irá retornar
Água que declina do véu
Vindo á terra reinar
Amargo como o fel
Doce como o luar

A ilusão do sonho
Afaga em mim a dor
Em seu desvairado banho
Assolar-me de esplendor
Inflama o corpo ao amor.

Como tinta e papel,
No risco sonhador
Dedo e anel,
Na beleza e torpor
Abelha e mel,
Alimento e criador.

Sonho! Como me modificas.
Agrega valores, edificas
Dá benção ao sofredor.
Teu lampejo extirpador
Recolhe a alma descrente.
Devolve a nossa gente
O caráter de vencedor.

Sonho! É tu dádiva.
Para a multidão pávida
Que o medo criou.
A luz que reprime as trevas.
Dos inúmeros Adões e Evas,
Homens imprudentes, que a terra formou.

Vejo longínqua a semente.
Crescendo em nossa mente
De futuro e menos dor.
Sorrio alegremente
Vendo que em nossa gente
Retorna ao peito o amor.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O Segredo


Mudei. Sinto-me diferente
De forma inconsequente
Afoguei-me neste mar.

Não sou mais tão inocente
Com certeza, menos descrente
Aos poucos entendi o que é amar.

Ouço pacientemente
Guardo tudo em minha mente.
Penso antes de falar

Fui crescendo lentamente
Hoje sou flor, não semente
Vejo o mundo me regar.

Emociono-me facilmente.
O riso surge habitualmente
Aprendi a chorar

Não me sinto experiente.
Reconheço abertamente
Conhecimento se adquire caminhando de vagar

Canto alegremente
Observo passivamente
Ávida por me encontrar.

Deparei com tanta gente
Anjos e serpentes.
De forma ou outra me levaram a aquilatar

Engraçada e sorridente
É a vida, indecente.
Que me coagiram a levar

Diziam-me astutamente
Para viver inteiramente
Devia aprender a ganhar

Entendi, sem ser displicente.
A felicidade chega sorrateiramente
Quando não se esperar

Vivo decentemente
Estilhacei todas as correntes.
Elos que tencionavam me acuar

Aprendi livremente
O segredo é simplesmente
Esquecer de ODIAR.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Alma Noturna


Espero embevecida, pelo manto escuro
Deleitar-me em teu frescor
Aventurar-me em teu enduro
Sentir, em minha face tocando, o pávido torpor.

Perante teus olhos, deitar-me nua
Lançada a pluma, à face da lua
Entrelaçada em teus insanos ares
Correntes dispersas dos sete mares

O lábio doce e sombrio
Imprime desejo e frio
Rompe em meu seio o calor
Aufere da minh’alma o amor

Sob uivos constantes e sublimes do vento
Anseio-te sem temor
Entre o prostíbulo e o convento.
Entre o profano e a dor.

Sou como a ave silvestre
Que sobre tua aura mestre
Alça um voo indolor
Pintaria a alma celeste, como um quadro sem cor.

Óh!Faceta negra, que condena-me a anseios
Encontrei em ti mil meios
De partilhar o estupor
Falta-me atingir o ápice, amado sonhador

Noite cálida e suntuosa
Servida de espinho e rosa.
Úmida de esplendor
Libertas-me da clausura, que aprisiona meu interior.

Meu peito estremece aflito
Resolves por mim tal conflito
Que emerge ao fim do dia
E submerge-me em agonia

Preciso romper o fio
Perigoso como um pavio
E enfim me libertar
Da tormenta que surge ameaçadora, assim que a lua no céu hastear.

Pronome Possessivo


“Meu” é tão furtivo
Infortúnio e tempestivo
Que a mim causa mal estar

Posse não existe
A menos que seja triste
E queira tudo vos pleitear

Entendas companheiro
Ter algo por inteiro
Não se deves desejar

O apropriado é ter se "meio"
Onde podes em devaneio
Outro se adicionar

A verdade é que queremos
E jamais entenderemos
Chamar alguém de “minha” o intento é dominar

Declamando em doce timbre
O sentido de ser livre
É poder ir e voltar

Quando se tem anseio
Não sustenta no peito o “meio”
E “minha” se quer usar

De fato admito
No tom baixo de adito
No fim desejamos
Ouvir alguém que amamos
“Meu” sussurrar

Em toda contradição
A verdadeira lição
Vivemos em conflito
Com o coração aflito
Em medo de se doar

Enfim compreendo
Com o peito enfastiado ardendo
Tudo que mais desejo
É ter na vida um ensejo
Para um pronome possessivo usar.

sábado, 7 de agosto de 2010

Poema Escrito na Chuva


Ping-Ping! ... A goteira declama
Dois corpos dançando na cama.
Plock- Plock! ... Contra janela
Silenciosa água descendo a ruela.

A criança brinca, rolando na lama
_Logo para casa! A mãe é quem chama.
Pulando as poçinhas vem o levado
Plick-Plick! ... É o barulho causado.

O casal enamora vendo a chuva reinar
Respinga no peito, a tamborilar
A roupa encharcada de tanto amor
Plof! ... Explode em beijinho o ardor.

O velho observa da cadeira em balanço
A flor se abrindo, encanto e danço.
No banho deleita-se a bela florzinha
Oh! ... Grita admirada a vizinha.

O pássaro acolhe-a em sua penugem
Avista de longe novas gotas que surgem
Rohf-Rohf! ...Sacode as visitas
Piu-Piu! ... Canta-as bem vistas.

Chuá-Chuá a chuva liberta-se
Subindo nos ares, enfim eleva-se
O sol retorna, em brilho majestoso
Sugando a água ao céu caloroso

Sem nenhum ruído
As gotículas vão subindo
No céu irão morar.
Mas logo logo, á terra irão retornar

Chuá-Chuá;Chuá-Chuá;Chuá-Chuá
No céu irão morar
Chuá-Chuá;Chuá-Chuá;Chuá-Chuá
Á terra irão retornar

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Deleite em Devaneio


Quero o cálice e me embebedar
Quero dar fim a futilidades e me libertar
Ser como a nuvem, que ama o sol
Ser como a isca, que odeia o anzol

Partilhar insanidades com o bêbado da esquina
Encontrar moralidade em uma jogatina
Esquecer os convencionalismos, ser eu de verdade.
Perde-me em agonia, para provar a vaidade

Busco resposta em uma fenda sem fim
Aprendo aos poucos, que viver é assim
À procura eterna de algo inumado
Por mais que se escave jamais é encontrado.

Provar da loucura e em faces febris
Deixar que o delírio torne-nos sutis
Sentir que o sangue pulsa arduamente
Forçar que os sentimentos aflorem na mente

Ter tudo em mãos e de repente perder
Entender que posso querer e não ter
Ver que a vida é só ilusão
Saber que de nada me serve a razão

Lançar-me a cama com uma meretriz
Fazer de mim mesmo o juiz
Trancar a porta do meu labirinto
Deixar que meu guia seja o instinto

Encontrar o País das Maravilhas
Trocar dinheiro por um saco de ervilhas
Ver um príncipe encantado
Voar sobre os montes em um cavalado alado

Todas as fantasias a loucura me propõe
Deixa-me livre, como a vida supõe
Gozar da vitoria antes da batalha
Coisa qualquer que para mim valha

Doce e promiscuo é o delírio
Belo, como um vale de lírios
Sinuoso como o desejo
Irritante como um cotejo

A insanidade é o bem da alma
Que em mansidão, cura a tormenta
De forma indolor e lenta
Devolve-me a calma

Libertar-se em devaneio
É encontrar um frágil meio
De sofrer sem se calar
E a vida suportar
"A sociedade expurga qualquer traço de intelectualidade"
Thaís Milani

Desafio


Vou mudar alguns conceitos
Sei que são bons sujeitos,
Mas precisam melhorar
Vou matar-me em desejos
Lançar-me sem desespero
Aproveitar por inteiro
Ser feliz e cantar.
Cansei-me de dar respostas
Infinitas e mesquinhas
Não quero mais ver as vizinhas
Não quero mais ter que odiar
Pensando alto, sem tolice
Vou fugir da mesmice
E se tudo ocorrer bem,irei para não voltar
Correrei livremente
Abrirei minha mente
Não deixarei nada escapar
Quebrarei a corrente
Brincarei com uma serpente
Dançarei até sentar
Vou amar alguém estranho
Trocar a tinta de castanho
Vou rir até chorar
Acordar às seis da tarde
Sem fazer nenhum alarde
Para casa não retornar
Não farei dieta
Não andarei em linha reta
Pensem o que pensar.
Cometerei algum delito
Armarei algum conflito
Só para me excitar
Vou andar desnuda
Tornarei minha alma muda
Perderei a expressão sisuda
Que me forçam a ostentar
Vou brincar como criança
Alargarei a esperança
De um dia poder voar
Conseguirei ter certeza
Falar com firmeza
Aprenderei a orar
Roubarei um carro forte
Enganarei a morte
Com benção e o com sorte
Poderei todo dinheiro gastar
Solenemente grito
À contra gosto admito
Com o coração submisso e aflito
De nada me serviria isso... Se no fim eu não AMAR.