sábado, 25 de setembro de 2010

O artesão


Mãos ágeis e suaves.
Alentam a emoção,
Moldando com um voar de aves.
As curvas do coração

Vigilante aos detalhes
Não admite imperfeição.
Adornando com entalhes
Aprimorando com devoção.

O suor endossa-lhe a face,
É banido em vão.
Logo que o tempo perpasse
Reinará em mansidão.

O olhar se comprime,
Sopesando a criação.
Cada traço presente imprime
A arte em gratidão.

É bela! É sublime!
Esta vossa imaginação.
Jamais duvide ou subestime
A mão deste artesão.

Ele é severo e irreverente.
Obcecado por inspiração,
Acolhe o futuro, determina o presente.
Afaga em seus dedos a perfeição.

Imprevisível e intocável.
Eterno, sem extinção
Teu talento tão amável
Não permite distinção.

Vagando em devaneio
Perde-se na imensidão.
Alma celeste, espírito alheio.
Tem nos lábios a saudação

Imparcial e distante,
Óh, quão feraz é o artesão.
Ora retraído, ora avante.
Destino. O que reserva sua mão?

Eu serviçal




É a vida. A vivência.
Construindo o caminho
Não há na voz eloquência
O ensejo é sozinho.

A lida. A experiência.
Deparo-me ao vinho
O suor é a essência
Não há seda, não há linho.

É a luta. A displicência.
À procura do escaninho.
Enfadonha é a ciência
Seus desconsolos apinho.

A força. A incumbência.
Uma rosa serve-lhe o espinho.
Mãos calejadas, clemência.
Na labuta definho.

domingo, 19 de setembro de 2010

Mundo Arisco


Chuva, chuvisco.
O frescor matinal
A luva, o risco.
A notícia no jornal

A caneta, o rabisco.
De armas, o arsenal.
Amor? Sentimento prisco.
Dor? Força bilateral

Lados opostos, menisco.
Nada humano ou fraternal
A verdade confisco.
Furtiva realidade colossal.

Calo-me ou arrisco?
Atado ao bem ou mal?
Atormentado com medo trisco.
Anteparo-me ao real.

Observo e petisco.
A tragédia semanal
Uma lágrima ou um cisco?
Apenas outro fato banal.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Brumas Sociais


Admirável tormento é o reflexo do meu ser
Insano e denso, como a névoa no amanhecer.
Esbranquiçado, opondo a cegueira
Negro, revelando a barreira.

Branco, tudo é branco.
Em derradeira inclinação,
Pulso, pulso e não estanco
Céus! Que aflição.

Os olhos lacrimejando
Dói, a dor da insanidade.
A imagem deflagrando
Retorne minha alma - piedade.

Estilhaços como a bruma
Intangíveis e místicos como a frígida espuma.
Povoando meu tormento
Donde surge e prolifera este maldito sentimento!

Recolho os fragmentos, disso que me enlouquece,
Elevo-o a composições, finos traços o enriquece
Logo, estarei interrupta e calada.
O convencionalismo impedirá-me de ser alada.