sábado, 27 de novembro de 2010

Carta do Guerreiro


Registrei-me uma carta
Enviei-a de Atenas à Esparta.
O melhor carteiro a transportou
Era o vento. O vento levou.

Sorri por dentro de minha armadura.
Eu era o guerreiro da amargura.
Com espadas lacrimejantes
Peito aflito, amor distante.

O selo de nossa história
Em muitas lutas perpassou
O amor construído de glória
A melhor melodia que ressoou.

Naquela carta jamais lida
Confessei minha perjura
Amei-te durante toda vida
Morrei por ti, com bravura.

Haicai


Céu de noite
Um véu de vida no ar
Frescor do amor

A Real Verdade


Vejo a vida com olhos vivos
Olhos que sentem e que falam.
Vejo a vida com olhos ansiosos
Olhos que desejam e calam.

Possuo no mundo motivos para avidez
Seres que me transmitem a sensatez
Possuo no mundo mil corações
Que surgem em diversas ocasiões

Conheço tantos sentimentos e emoções
Partilho tantas vitórias e realizações
Conheço cada dia uma nova face do mundo
Partilho todo instante o conhecimento oriundo

Aprendi que posso mostrar-me, sem medo.
Aprendi que posso apoiar-me em um rochedo
Compreendo hoje a real verdade.
Jamais haverá no mundo, algo mais puro que a amizade.

domingo, 21 de novembro de 2010

Meu Eu - Homenagem a José Saramago


Não sou flor que abrolha no quintal de casa;
Apenas, peixe que nasce em mar de ressaca,
Pássaro que voa no temporal,
O sol da meia noite, a aurora boreal.

Um oásis que surge em meio ao deserto
Estou longe, mesmo quando estou perto.
O choro que brota no carnaval,
O riso que escapa no funeral.

A negação de mim mesmo
O bem e o mal – o humano animal.
Que procura pela vida á esmo
E encontra o final – a fonte vital.

Um livro sem história.
A palavra sem tradução.
Um reino alheio à escória.
A sentença e a salvação.

A glória, o medo e raiz.
Um rosto, o selo e milagre.
A dor, a cura o vinagre.
O advogado, o réu e o juiz.

“Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos”.
Ensaio Sobre a Cegueira;José Saramago

sábado, 20 de novembro de 2010

Pensador


De tristeza em tristeza
Acresci a sutileza,
Pouco choro, pouco vivo.
Muito sonho e realizo.
Pensei mil vezes sobre amor,
Em todas mil fui malfeitor;
Se pensasse doutro jeito
Certamente sou mal sujeito
Certamente sou Pensador.
Liberdades libertinas
O amor desvenda e desatina,
Atado aos seus cordões
Devaneio em dimensões
Sou de tantos pensamentos
Alma astuta e olhos atentos.

De tristeza em tristeza
Acresci a esperteza,
Pouco choro, pouco vivo.
Muito absorvo e incentivo.
Pensei mil vezes no ódio
Todas mil do açúcar ao sódio
E se pensasse doutro jeito,
No ódio e amor de meu peito
Mereceria seu respeito?
Tu que ouves e que lê
A quem venho eu dizer;
Se, discorda do escritor.
No amor e ódio se seu peito,
Certamente é mal sujeito
Certamente é Pensador.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O Inverno


Na face ardem todas as estações,
Nos lábios sorriso e inúmeras canções.
Eu sou o sol. O verão é minha alma, minha [unção.]

Em meu céu há nuvens, de algodão.
A brisa sopra forte, espalhando a imaginação.
As estrelas são apenas astros, no palco da [emoção.]

Corro em direção à vida, com fios de esperança.
De que serviria ter o mundo, sem a alma de criança.
Descobri-me ser um invento, de grandiosa proporção.
Com mais audácia que o vento, que enfrenta um furacão.

Dentro de meu ser há um inverno, coagindo com o verão.
Nos outonos de minha vida, poucas folhas deitaram-se ao chão.
A primavera é a primazia que salda minha aflição.
O verão é minha alma, ser o sol, minha tentação.

domingo, 14 de novembro de 2010

Guerra


Avante prevejo outra grande construção
A morte da liberdade e o fim da canção.
Sigo caminhando, sem sentir o chão.
Em vida, há formas, ou será imaginação?

O medo traça a Constituição de um novo mundo
Cidadãos escoltem as leis, e levantem muros.
Professem a mentira de lares seguros;
De fortalezas e prisões, circundo.

As placas e os sinais, uma vida tão distante.
Marcas de sangramentos, receitas de coagulantes.
Punhos cerrados em grades, gritos de espanto.
As bancas são vermelhas e os jornais túmulos sacrossantos.

Prédios desmoronam, como as famílias banais.
Os escombros soterram crianças e absorvem os ais.
Tantas vidas sãs ceifadas e há presságio de muitas mais.
Estruturas abaladas, pessoas como navios sem cais.

A negra noite inunda o deserto de secas vidas.
Os olhos profundos, inseridos em um mundo que trucida.
Escravos químicos, sem algemas, vagueando sem direção.
Á esmo procuram quem lhes dê vida e arranque a maldição

Sarcófagos abrigam jovem Reis, que morreram na guerra.
Um inimigo invisível, invadindo toda Terra.
Nações sem governo, abastecidas de dor.
Corpos sem leitos, desejo deflagrador.

Descansam sob o chão frígido e lacrimejado
Sonhos de uma grande e pávida multidão;
Regados à dor, crescendo pranteados.
Nutridos pela dedicação.

Avante prevejo uma muralha imensa, a grande proteção.
Mas, o inimigo pelo qual se trava a batalha suplantou o coração.
Ela não resguardará o homem, de seu destino, de sua ignorância.
Não há o que vença quando o oponente é um desatino, cujo nome é ganância.

sábado, 13 de novembro de 2010

A Triste História de Olíria III


[O fim]
Um dia à tarde, quando andava no Pelourinho.
Encontrou-se com um moço, de terno e colarinho.
Percebeu então Olíria, que queria algo maior.
Mais alto que o Elevador Lacerda ou o Dique de Tororó

Olíria pôs perdidamente a refletir
Como obter tudo que cobiçava alcançar?
Percebeu que era bela, e podia isso usar.
Bastava apenas ser esperta e fingir

Errou. E de veras por falta de inocência
Logo isso que diziam ser, a sua essência,
Andava só, e não sabia para onde ir, onde andou.
Vivia por prazer, e vivia de querer, só querer.

Era uma doce menina, esta tal de Olíria.
A Bahia lhe ensinara, e ela sempre sorria.
Foi assim, com doçura e alegria.
Que encontrou o moço que por ela morreria.

Mas era paupérrimo, o filho de D. Francisca.
Também belo, como outro não há na Bahia.
As meninas da cidade, o adoram até quando pisca.
Todavia, para a bela Olíria, o moço nem existia.

Olíria, o lírio, vendera a alma e a pureza;
O que buscava era apenas dinheiro e riqueza.
Há... Olíria, por que tanta ganancia e tanta fraqueza?
O único amor que conhecia era à luxúria e beleza.

Então casou-se com Arlindo, que de lindo nada tinha;
Possuía poder, que provinha de jogatinas.
Vivia como rainha, e mandava por mandar.
Mas a noite, quando sozinha, sentia falta de amar.

Sentia-se incompleta, a praia sem mar.
Um choro interno e contínuo, sem uma lágrima derramar.
Ponderou e percebeu que nada mais tinha a impetrar
Chegara ao topo da vida, era hora de retornar.

A noite cobriu o céu, sem uma estrela para enfeitar.
Olíria, o lírio de Boa Esperança, retirou o anel, de seu dedo anelar.
Tomou uma pequena maleta, que Rosilda, ajudara-a preparar.
Guardou ali seus sentimentos, a solidão e o desejo de amar.

Viajou. De volta à terra que nascera para uma última missa rezar.
Na Igreja de Santa Clemência, fez sua confissão.
O padre viu-a com olhos humanos, concedeu-lhe o perdão.
Poderia agora morrer, para enfim descansar.

De fato Olívia viveu muitos verões a se contar.
Voltou a ser Olíria de Boa Esperança, que olhos fazia brilhar.
E quando partiu da vida, levou com sigo a experiência.
De ser santa e humana, agora é chamada Santíssima Olíria Clemência.

A Triste História de Olíria II


[A fuga]
Era uma doce menina, esta tal de Olíria.
Apenas alguém discordava, D. Maria.
Uma senhora mestiça, afeiçoada pela feitiçaria.
Que dizia ver em Olíria Clemência, arrelia.

Olíria mal suspeitava, que fora descoberta
E que traria tanta tristeza, para mãe Alberta.
Olíria mal suspeitava, do que viria a seguir.
Encontrara enfim um jeito de fugir;

Seu Agripino, um velhote leviano.
Propusera um acordo, que mais parecia um engano.
Levaria Olíria Clemência, para São Juliano.
O mais conhecido convento, daquele povo baiano.

Olíria intimidou-se a tratar com o senhor
Mas sabia que precisava de um bom logrador
Alguém que ajudasse a escapar do terror
Que estivesse disposto a leva-la à Salvador.

Quando a noite virou dia
Olíria levantou-se, e nada houve de gritaria
Mal se despediu da família, coração acelerado do peito fugia.
Era tanta sede de vida, que nenhum um obstáculo saciaria.

E quando o lírio de Boa Esperança passou pela cidadela
Viam-se olhos tristes de meninos, que choravam na janela.
Na Igreja de Santa Clemência, todos clamavam por ela.
Vai-se ao longe Olíria, a alma pura e a moça bela.

Olíria não queria ser santa, nem tão pouco era.
Queria mesmo ser feliz, viver em outra esfera;
Iria prostrar-se em um altar da luxúria
Ninguém a veria como um anjo de alma pura.

O lírio de Boa Esperança deflorara sem amor
Perdera o aroma suave, deixara de ser flor.
Os campos quais percorria, traziam-lhe vigor.
Sentia-se filha da terra, amante de Salvador.

Não havia mais Olíria Clemência
Somente a Baía de Todos os Santos.
Que a presenteavam, cada um com seu manto.
Junto á liberdade perdeu-se santidade, perdeu-se a inocência.

O toque do ar, a água e o povo;
Tudo era belo, tudo era novo.
Nada de Santa Clemência ou de Antenor
Cada dia que vivia era melhor que o anterior.

A Triste História de Olíria I


[A apresentação]
Era uma doce menina, esta tal de Olíria.
Pequena em estatura, repleta de formosura.
Pensava grande, mais alto que a colina Escura.
Lá da cidadela que residia, encantadora era Olíria.

O pai, homem ferrenho e pouco acalentador.
Nada possuía na vida e perdera também o amor
Era fiel, vigoroso e muito trabalhador.
Como tal homem no mundo, jamais viu-se outro Antenor

Acordava cedo e dizia:
Apresse-se menina, a noite já virou dia.
Puxava-lhe pelo braço acanhado, resmungando.
Do quarto abafado, trazia-a arrastando.

Triste vida a da menina; pobre Olíria.
No entanto a garota, da vida somente ria.
E pensava consigo mesma: Hoje sou apenas Olíria,
Um dia eu me vou e terei minha alforria.

Ah... Quanta inocência, possuía a criança.
Se soubesse ao menos regar a flor da esperança
Se soubesse ao menos, que para sua prisão na há fiança.
E que seu nome é Olíria. O lírio de Boa Esperança.

Quando a menina passava, todos se alvoroçavam.
O povo da cidadela admirava a beleza
O moço da padaria, rapidamente fazia a mesa.
Já a moças da esquina, de corpo de fora choravam.

Mal sabia Olíria, que todos a invejavam.
Queriam ser como ela, em todo seu rebolado.
Uma forma tão discreta, de mostrar o outro lado.
Aquele que sempre escondia de todos que a olhavam.

Os cidadãos de Boa Esperança admiravam a complacência
Via-se nela, a linda Olíria, tão grandiosa decência.
Que o Padre, da Igreja de Santa Clemência
Chamou para a missa rezar, e assim deu-se o nome de Olíria Clemência.

Clemência era o que pediam os rapazotes de Boa-Esperança
Que corriam para Igreja, com olhos brilhantes de criança.
Aplumados como pedia a circunstancia.
Enquanto Olíria reagia com sutileza e bonança.

O lírio de Boa Esperança era branco como o leite
O cabelo escorrido da cor de um novo azeite
Olhos de luxúrias, uma cama que não há que não deite.
Um corpo aceso, para que toda imaginação se deleite.

Olíria era a tradução do pecado em forma angelical
De seu olhar emanavam, o bem e o mal.
Dentro dela enclausurava-se o melhor carnaval.
Dentro dela enclausurava-se o anseio carnal.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A ponte


Vou caminhando, sereno e sorrindo.
Não tenho medo e nem busco abrigo.
Vou vagando – assistindo;
O mundo inteiro se acomodar.

Dobrando as suntuosas esquinas
Descobrindo o novo das vidas;
Aprendendo a ser bem-vinda
Por onde eu passar.

Nestas largas ruas esculpidas
Vou ganhando novas feridas.
Sanando aquelas antigas
Que jamais hei de encontrar.

As pontes são os melhores caminhos;
Deleito-me a ver os rios.
Silenciosos em seu aninho
Cultivando com modéstia um altar.

Eu olho para a luminosa água.
A pureza que a meus olhos salta
Uma melodia tão doce e alta,
Levando a alma á flutuar.

Aquele pitoresco obelisco.
Pelo frígido metal ereto;
Encoberto pelo concreto
Vem a todos abençoar.

Consagra qualquer um, que como eu.
Trás o mundo na memória.
Observando da ponde de glória.
A felicidade se banhar.

O Trem


Traços, riscos e pontos.
Escrevo no livro do coração
No rosto medo e espanto
Nas mãos gotas de sensação.

Olhos tão aflitos e imersos
Nas palavras soltas da imaginação.
No papel frases e versos.
As lágrimas de emoção.

Assisto o trem que parte
E retorna à estação
Ontem era cedo e hoje é tarde
Corro em busca de proteção

Um trem sem passageiros
Preenchido apenas de solidão
Pelo caminho incerto e estrangeiro
Vagueando de vagão em vagão

Tivera eu medo, de tomar essa direção!
Os caminhos que percorri, nos trilhos estão.
A vida é uma carga, sem dimensão.
Que peregrina no vale e também no sertão.

Traços, riscos e pontos.
Vão tomando proporção.
Vai-se ao longe o trem de tantos.
No vazio de sua imensidão.

A exposição


Há quem julgue a vida
Há quem dela esquive,
Pouco dela se vive
Se pouco é atrevida.

Há quem desenhe no dia,
A forma que toma à noite.
Há quem se esconderia
Se soubesse que a vida é o acoite.

Já vi tantos quadros de vida
Expostos em velhos museus
Desprezíveis em suas feridas
Esplendorosos em templos de Zeus.

Expositores tão simplórios
Quão belos seus trabalhos são!
Vencedores inglórios;
Artistas com suntuosas mãos.

Bela é a arte de desenhar,
A vida com perfeição
Está limitada a quem amar.
Mesmo, que seja de antemão.

Tais artistas de quem falo
Trazem o pincel no coração
O sague, que pulsa ralo.
È tinta da imaginação.

Não há quem possa esquecer
As obras tão vistosas
Nem há como parecer
Nesta vida majestosa

Que saiba eu do mundo
Todos somos pintores
Desenhando os amores
Em mares de arte inundo

Quadros. E mais quadros.
Expostos em paredes conspurcas
Quadros. E mais quadros.
Depostos envoltos de burcas

Quadros. Quantos quadros.
As mãos férteis produzem.
Quadros. Quantos quadros.
Onde as vidas se reproduzem.