domingo, 26 de dezembro de 2010

Essência


São somente sementes de letargia
Enterradas, encravadas nessa sequidão.
Que a lama de Minh ‘alma refugia
Em sua imensa e eterna contradição

Flores involucras em capsulas concernentes
Nutridas pelo vão da sinceridade.
Amentadas no seio da serpente.
Regadas pela inóspita maldade

Imagens mortais e sedutoras em cerne
Atiçam os olhos ao desejo e ardor
Em seus lábios de desgoverne
A moral deflora e amolga o amor

Surtindo em mim a essência do ser
Que a alma expurga na tempestade
Um elo perdido, a verdade.
Na face da flor veio a perecer.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Pedras Lacrimejantes


As cores dos olhos vibram no desejo. Turmalinas, esmeraldas e opalas, todas joias moldadas para atender ao lindo quadro envoltório, o rosto. Estamos aprisionados a uma corrente dourada, que se intercala por vontade própria em nosso pulso e o consome, solidificando-se com uma marca única, o medo. Somente pedras fortes o farão se desmantelar.
Precisamos deixar nossos olhos polidos e esmaltados, com cores sobreas e vindouras. Carecemos deixar que o brilho escape, seja capitado e adorado por quem esteja ao redor. Há um débito impagável com nossa alma cativa, de deixa-la livre para inspirar o ar eloquente e deixar-se contaminar pela displicência, de não ser apenas ser e aprender a essência.
Há tantos anseios, tantos desejos e simplesmente nos deixamos por eles aprisionar. Estamos todos em uma ilha de espelhos, que iludem a alma e a faz prantear, lançando-se no abismo da loucura e afogando-se sem mar.
As pedras que herdamos, são singelas e simplórias, e necessitam que haja mãos hábeis que as possam lapidar. Não tomarão forma de luz, de dor ou de indecência. Sequer abrir-se-ão depressões, nostalgias e tristezas. Jamais cobiçarão além do anonimato, da avidez e da grandeza. Estabelecer-se-ão com rastros, pegadas alheias. Não se pode seguir, ou prever nem ao menos torna-la absoluta, como riscos do mármore.
Essas joias são preciosíssimas, e cada um possui a sua. Adquiri-las é um dom e abençoado seja quem as doa e recebe. Quando marejadas expurgam a maldade, atropelam a malícia e fazem nascer seu próprio Reino. O lugar onde se vive da maneira mais eficaz, onde se perder entre os sonhos trás a alma alegrias e paz.
Não são as janelas da alma, são a própria. Concentra em seu cerne o deleitoso dever de deixar-se ler, de transmitir o que está oculto e transparecer o que o corpo clama. O maior arguto que delas provém, derrama existência, encharca a terra onde os pés sobrevêm. Em sua humilde presença transpira o calor, que pode matar em afogamento e tormento com uma piscadela de amor.
A perfeição permanece em sua clausura, em algum lugar intangível. Todavia criara súditos, com os mais diversos extintos. Guardiãs de sonhos e tristezas, intransponíveis, indecifráveis, enlouquecedores e amáveis. Um código escrito na língua do encanto e que canto nenhum quebrará. Os libertadores de qualquer alma aprisionada. Somente os olhos são capazes de chorar.
O líquido salgado e esplendoroso é a mente um confisco, de que as pedras pertencem a seres, que respiram, vivem e sabem que por meio delas podem o mundo exaltar. Pedras que nos fazem humanos e induz o sangue a pulsar.

Dois Princípios


Desprendo o corpo no precipício,
Não é argumento ou saída, o que se chama suicídio.
Jamais depredaria minha própria lama ao ponto
De matar-me por desejo ou consagrar-me santo.

Depois de noites na agonia e no relento
Descubro-me vivo por um intento
Uma simples linha traçada com rigor,
Que separa em minha vida: o real e o estupor.

A simples presença acalentadora
Insana busca em uma existência predadora.
Algum ser ensandecido á procura do ensejo
Cujo lhe foi entregue o ar e tomado o desejo.

O choro na noite aflora
Na flora da densa floresta afora
Um animal enclausurado na dor
Dois princípios tão inversos e de tamanho ardor.

O real é a maldade, comungada ao amanhecer.
Que é convertida em bonança logo ao entardecer
O calor que sol desposa, é inflamar e ver-se sonho,
A realidade transfigura-nos, vejo-me como estranho.

Estupor de minha história! Tomastes minhas dores?
Sequer pensei eu, em perder-me por amores.
Tu bem sabes que o anseio, como o pó deleita ao vento.
Aprisiona-me em teu Reino da Fantasia e será meu melhor invento.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Uma Noite de Hamlet


A folha ao vento, dispersa-se no ar.

Sentiu o medo de ser livre,
Perde-se e jamais retornar.

Estava preso ao sonho, queria poder sorrir.
No âmago, sorrateiramente, acalentava
A ira do céu e do porvir.

Não possuía a alma
Subjugara-se sem pudor
Em um alamedo repousava a calma
De um anjo sem esplendor.

Desperta-te ser dormente .
Lança tua vista ao viver,
Liberta-te ao mar do bel-prazer.
Da clausura que aprisiona tua mente,
Onde travas a luta entre o ser e não ser.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Ponderação Noturna


Refletir, ousar e viver.
Converter o pranto em riso,
Amar com alegria e siso.
Saber o momento de encontrar e perder.
Tudo seria simples, se houvesse em minha mão,
Uma seta, uma placa, que indicasse a direção.
Eu vos diria – sem ceder ao medo
Não importo-me com o futuro, ele virá tarde ou cedo.