terça-feira, 6 de setembro de 2011

Sheol



Dê sorrisos vazios, dorsos em dor.
Na vagueza de olhos fartos
Tento encontrar a sutileza.
Carácter torpe, mas com nobreza.

Há os que dizem que procuro uma ninfa.
Talvez isso seja o fato – mas suspeito.
Se for o caso, não valho o que pleiteio!
Um ser mágico? Oh, que devaneio.

Eu quisera – há tempos – um amor.
Vasculhei entre sonhadores clandestinos,
Extirpando medalhas dos peitos.
Retirando boçais de seus fúteis leitos.

Descobri, com fardos sob os ombros frágeis.
Sentimentos nobres que enchem os vales,
Sangues rubros derramados nos desertos.
Bombas que explodem com destino incerto.

Talvez eu queira mesmo um ser mágico,
Despertando-me do Sheol aos brados,
Majestosas asas translúcidas e luz no olhar.
Emergindo juntamente a capacidade amar.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Luzia


Um par de meiguinhos olhos
Espalhando pelo ar mansidão,
Desatina a doer o peito
Sofreado de solidão.

Ai! Que anjo é este de meu tormento?
Com tuas asas deflagra meu ser,
Quanto amor preso aqui dentro,
Pronto a te oferecer.

Tua música de flauta doce,
Transversa minha emoção!
Eu, que amo como Afrodite,
Passo a viver feito Sansão!

Cortem meus cabelos!
Prendam-me como meliante!
Ceguem meus olhos!
Porém, não retirem meu pequeno gigante.

Ai! Que anjo é este compilado em meu cerne!
Porque fostes e me deixastes a dor?
Condenado a este estéril deserto,
Terei de viver sem teu amor!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Desabafo de Goethe


Um estranho a deleitar-se no ermo; Eis que este sou eu,
Vagando novamente nos desertos da guerra.
Por que meus olhos só veem o breu?
E meus pés não se desprendem da terra?

Humano, é isto que sou. Preso ao finito e a dor,
Não tenho nada de divino ou de glorioso,
Apenas pó, que faz da vida seu clamor.
Tão-somente um sopro, de um vento brumoso.

Ao choro, meus olhos pertencem há anos.
Vendidos como escravos da escuridão,
Não sei o que é ser grande, jamais serei Octaviano,
E César abandonou-me para lutar com um leão.

Tentei sagrar-me deus, de minha imaginação.
Pois, ela é única a quem governo,
Percebi-me fraco, não consegui sequer minha adoração.
Nasci para o anonimato, Brindarei o esquecimento eterno.

Humano, é isto que sou. Preso ao finito e a dor.
Não tenho nada de olímpico ou de majestoso,
Porém, fui agraciado com o dom do amor!
Ele volve-me de nobreza, faz-me ser grandioso.

“É certo, afinal de contas, que neste mundo nada nos torna necessários a não ser o amor."
Johann Wolfgang von Goethe

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Cálice


Ardente, chamas meu nome.
Pede que a deixe extasiada,
Clama, grita; Me consome!
Vapores na janela estampada.

Doce delírio de lábios calorosos,
Espalhando sua dança pelo Salum.
Displicentes, indecentes e audaciosos,
Corpos úmidos, a formar um.

O desejo é um vinho a ser partilhado,
O líquido que escorre entre os lábios.
Olhos e pernas, escancarados,
Caminhos tortuosos, que embebedam sábios.

Seios redondos e rosados,
Onde mãos grosseiras repousam,
Um sorriso jocoso e ousado,
O prazer é o galho que muitos pousam.

Se há no mundo, melhor cálice.
Cale-se aquele que o descobrir,
Se há algo superior ao meu ápice,
Traga para comigo repartir.

domingo, 26 de junho de 2011

Olimpo


O sorriso lá estava como um enigma.
Cravejado em tua face, um estigma!
Em teus olhos - Oh! – quanta vida,
No meu peito, muitas e muitas feridas.

A quem temo eu, se não a ti e teu sorriso?
Sincero, torturador e inciso.
Esta contenda que causas a meu ser,
Faz do orgulho tão pequeno e a raiva perecer.

O cálice de amor que me deras,
Transforma-me de Atenas em Hera,
Teu sorriso, meu Olimpo, minha morada!
Perfeitamente situado entre faces coradas.

Confessarei minha agonia, antes que dela padeça.
Não há nada sob o sol, que a mim mais entristeça,
Que ver teu rosto esmaltado,
Dentre as lágrimas situado.

GuerREIro


Espadas pesam no orgulho.
Golpes me acertam a alma,
Completamente alheio, feito entulho.
Meus olhos perderam a calma.

Sequer sei onde errei, e se foi em vão?
Procuro entender por que estanquei,
Com meus olhos cegos não vejo a razão,
Quando descobrir, onde estarei?

Num corredor vazio, repleto de portas,
Tento passar por todas elas.
E nenhuma delas a chave comporta,
Ficarei só, observando, guardando. Sou boa sentinela?

O que me define? O que faço?
Me retenho ou desfaço?
Trancafiada está minha esperança!
E a vida é só lembrança.

Não gostei do que vi, onde estive.
Ainda assim caminhei.
Quem à angústia sobrevive,
Cultiva o segredo de ser Rei.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Estatuária


Escureci, e névoa se espalhou,
Estático, como sempre estive.
Espiando meus pecados no espelho.

Espectro do que se esperava,
Esquivo de sua essência.
Escudeiro da experiência!

Espectador alheio e especioso.
Espreitando a morte do esplendoroso,
Esperançoso de que irá estancar.

Espartano de espírito!
Esmorecendo pela estrada.
Espada em punho e coroa de esmeralda.

Esfacelo a alma, estarrecida.
Escuto a indagação da Esfinge,
Esmagando minha mente estremecida.

Estorvo, meus olhos estonteiam.
Estupor, que atinge como estrepe,
Esvaeço meu ser, preciso de estepe.

Estilhaços recompostos pela espátula.
Estigmas, pelo tempo estampados.
Estéril, infértil. Sou uma estátua!

Bom dia


Hoje acordei assim, um pouco de mundo, um pouco de mim.
Pensando onde já estive e por que parei aqui - é o fim?
Na esquina sombria da alma, com uma indagação!
Eu, que já foi príncipe e vilão. Estou estático, sem ação.

Todos os dias quando acordo, sou novo e sou velho.
Uma antítese sobre pernas, que sonha e deseja,
Nego-me e aceito, esse é o meu evangelho.
Traio meus antigos sonhos por novos, e que assim seja.

Descubro em mim, as melhores armas para usar na guerra.
Escondo os pré-conceitos; O medo caí por terra.
E desta forma, desvaria e inconsequente vou me recriando
Em territórios nunca dantes desbravados, estou caminhando.

Hoje acordei assim, um pouco menor, um pouco maior.
Diminuí em minha descrença, indiferença, na dor e ilusão.
Aumentei minha coragem, sabedoria, alegria e valor,
Tomei-me uma peça rara, de minha própria coleção.

Todos os dias quando acordo, sou futuro e passado,
Um verbo conjugado em duas direções, lado a lado
Eu que sempre expiei meus pecados, sobre o pó
Estou me sentido cinza, estou me sentindo só.

Descubro em mim, a melhor arma para contratempos:
Amar meus erros, pois deles me farei mais amável.
Estou entendendo, de vagar, que para tudo existe o tempo.
E aos poucos, como grãos semeados; Estou me tornando inabalável.

sábado, 21 de maio de 2011

Senhor Marinheiro


O que dizes marinheiro,
Em teu convés derrama água?
Seja forte guerrilheiro,
Não te afundes em mar de mágoas.

Abra as velas, sob o astro escandaloso,
Permita que o vento abrace tua causa,
Esqueças por um instante vosso calabouço
Experimente as ondas, ame-me sem pausa.

Prenda-me, com o forte braço, em tua haste.
Eu estarei flutuando no céu. Extasiada.
Senhor marinheiro, que em minha vida comandaste!

Se achates conveniente, lance-me ao mar,
Um grande peixe será minha morada,
Todavia, saiba meu senhor, não é pecado amar.

Antes que a maré me tenha, permita-me confessar,
Calarei meus sussurros, não sei se o que digo agrada:
Foste tu o único marinheiro, em minhas águas navegar.

sábado, 14 de maio de 2011

Brancura


Não há o que escrever,
Minha mente está calada.
Dialogou anos a fio,
Jamais disse nada.

Fagulhas povoam o inferno de palavras.
Elas vagueiam sob a fumaça,
Não consigo ver.
Perdi-me na névoa, a astúcia está escarça.

O choro de nada me servirá.
Tampouco toda sabedoria que acumulei,
Consenti à bruma me envolver.
Agora, que estou cego e mudo, ouvirei.

A menina


Ela tem graciosidade, salpicada de vaidade.
Sorri envergonhada, com maçãs enrubescidas.
Está farta, aflita, com a mente em embate,
Porém, continua afoita, sozinha. Tão pobre, tão covarde.

Pede licença, para caminhar entre a multidão.
Mal percebe que está só, e diminuta como um anão,
Sendo sufocada pela respiração de outrem,
Entretanto, persevera constrangida, abatida. Sem asas, sem chão.

Ela chora, silenciosamente, como um rio.
Desespera-se com a verdade de seus olhos,
Sente-se perdida, enraivada, feito fogo em pavio,
Contudo, assente a dor, engole a fúria. Não há velas, não há navios.

Tem olhos dentro do espelho; Estes não lhe pertencem.
Leva a mão aos secos lábios, onde a alma emudece,
Seu olhar é dúbio, de esguelha e tristonho.
Todavia, sobrevive; Faz bater o coração. Tão sozinho, tão enfadonho.

Ilusão imposta



A ilusão é o ar, que faz do peito inflado vivo,
Que trás luto à morte,
Mostra o quanto sou impetuoso; E sobrevivo.

A crença no intocável é a arma mais arguta,
Que sobrepõe a sorte,
Faz da lida, menos luta.

É possível que tarde eu tropece em meu sonho,
Que a mente suporte,
Não somente a esperança, mas tudo que me imponho.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Eu


Serei a luz sobre teus olhos
O ar a inflar teus pulmões,
Sobre o fio serei a tensão
A Dalila, de Sansão.

As chagas a roer teu peito.
A insônia na escuridão da noite,
O tarol a ressoar em teus ouvidos
Serei teus gritos, teus rugidos.

E seu corpo clamará por minhas mãos gélidas.
Pedirá em misericórdia para ouvir minha voz,
Teus pelos eriçados por minha ausência.
Serei teu calor, tua indecência.

Ame-me, pois neste momento.
Antes que o deixarei, a me desejar.
Toca-me em quando não me recuso,
Depois estarás perdido, estarás em desuso.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Tudo é vaidade.


Eu estava, só. Olhando para meu abismo.
O sol observava o infinito. Um grande prisco.
Porém, ele vira tudo. Desde o primeiro momento.
Então ele me dizia, para correr com o vento.

Eu, humano, falho, finito.
Eu, solitário, indeciso, aflito.
Eu, que tenho em meus olhos a noite aprisionada.
Eu, que sou tudo e ainda assim sou nada.

Ando a olhar para os cantos atinos
E corro, pois correr é meu destino,
Seguindo apenas o conselho ensolarado.
Tendo como aliado o vento, que sopra gelado.

Passo noites em claro, tenho tanto em que pensar.
Os meses passam rápido, saltando em meu calendário
Semanas são como virgens e parecem se entregar.
É o tempo meu inimigo, ou é delírio de solitário?

O sol raiou e se pôs, e vem ofegante ao lugar onde vai raiar.
O que foi, isso é o que há de ser;
O vento vai para o sul e faz seu giro para ao norte retonar.
Nada há de novo debaixo do sol, e o que se fez, isso se tornará a fazer.

Tudo tem o seu tempo determinado; Eis que tudo se faz.
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar.
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar.
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.

Livro de Eclesiastes.

O Caminho das Pedras


Abra os olhos, a voz soave disse,
Avistei pela primeira vez o paraíso.
Com árvores coloridas, queria tanto que você visse!
E rios de chocolate, era lindo. Lindo.

O céu, tinha uma cor anil de primavera.
E coelhos rosas saltitavam pela grama,
Olhavam o relógio apressados, abortoavam as gravatas.
Sapos coachavam em drama.

Tudo era tão gracioso, meus olhos se enchiam,
As ondas nasciam da orla arrebentavam em alto mar.
Minha face transformada, como Alice me sentia.
Talvez por estar facinado com tantas Maravilhas.

Haviam posto a mesa,
Elegantes talheres de luz.
Uma fina toalha tornava completa a sutileza,
Estava à espera de uma companhia.

Com sua voz estridente, ouvi-o dizer.
_Trouxeram-no ao meu lar, digam-me porque?
_Encontramos o abandonado, senhor.
Ele calou, havia algo naquela sala que não podia ver.

Fechei os olhos, e tudo havia desaparecido.
Estava só, abaixo do céu em uma negra noite,
Galhos secos em árvores mortas e ratos pelo chão.
Voltara a velha realidade, havia sobrevivido.

Pela primeira vez, visitara o País das Maravilhas.
Ele me expulsara para que eu retornasse.
Precisava que eu aprendesse o caminho,
Sem que as pedras me levassem.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Verbo Haver


Haverá outros amores, outros temores,
Frescas e belas paixões gris.
Haverá outros amantes, outros semblantes,
Pássaros em voo nos céus anis.

As flores se abrirão em setembro
Colorindo os dias de sol,
E chuvas inundarão novembro,
Transformando o ar em cor.

O vento queima minha face.
A ardência de um futuro me mantém.
A saudade atormenta o rasgo no peito,
Se houve você, haverá outros também.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Chuva de Verão


Corro...Corro...Corro. Já aponta a chuva por trás do morro.
Corre...Corre...Corre. Mais uma nuvenzinha que morre.
Abra logo a sombrinha, que a sobrinha abandonou.
Oh! O que acontece? A chuva passou.

Existir, ou não existir? Eis a questão.


Existo. E nego minha existência.
Não porque creio que dela pouco restará.
Nego-me. Pois o fardo maior é a vivência.
Envergonho-me, o SER sempre falhará.

Quero não possuir bens,
Amar alguéns,
Andar sobre o mar.

Quero não ter morada,
Ser amada,
Reinar pelo ar.

Quero expandir meu peito,
Com pequenos feitos
Me sagrar.

Existo. Mas compreendo a beleza de não existir.
Estanco minh’alma, ávida por derramar SER.
Permaneço em anonimato, como a chuva fina ao cair.
Creio que se não existo, não hei de perecer.

Quero dominar a morte,
Traçar meu norte,
Dormir sob o luar.

Quero sagrar-me herdeiro
De lobos e cordeiros.
Me auto-desafiar.

Quero crer que existo,
Sou mais que isto,
Que me forçaram a acreditar.

Existo. E dispo-me de minha existência.
Barganho-a por minha essência, que jamais me deixará.
Estou desnudo e aprisionado a minha consciência.
A prova mais concreta, de que o SER sempre existirá.

Quarto Branco


Tranquei no calabouço de minha consciência
A única coisa que me vale a vida
Sorrio por ter perdido as chaves,
Contudo, é a lida. É a lida.

Se fosse te dizer algo. – Não que queiras escutar!
Diria-vos que escondi por temer o que está guardado;
Com lágrimas gritaria, o mal que vive neste jogo,
Somos nós o tabuleiro e o destino é o dado.

Posso contar seis alvas paredes,
Tantos lados que eu oculto.
Trancafiei minha lucidez.
E minha mente é só tumulto. Só tumulto.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Poema Escrito com Sono


Tic... Toc... Tic... Toc
Um silêncio que apavora.
Tic... Toc... Tic... Toc
Meia noite não demora.
Tic... Toc... Tic... Toc
Faz-me adormecer.
Tic... Toc... Tic... Toc
Faz também amanhecer.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Segunda Pessoa do Singular


Destes dois olhares, para corromper m’alma,
E sem tua derradeira face, tomas minha calma.
Dominastes meu ser, com teu mero sorriso.
Banhastes minha vida e retiraras dela o siso.

Aflito em meu cômodo vazio, pranteio tua partida.
Porque foras e deixaste-me sós; criastes minha ferida;
E nela refugio a distância de um amor interrompido
Postes em meu ar uma espessa nébula, onde me despido.

Pois, não vistes meu ser que clama por tua existência,
Abandonastes a vida, e tudo nela possuí tua essência.
Não! Se for isto um castigo me desponho a cumprir,
Se pelo amor que tu me tinhas, deixaste contigo eu partir.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Inimigo íntimo


Recolho-me em alguma esquina de m’alma.
Agarro-me a todos os vestígios de lucidez,
É sombrio e frio estar só em minhas palmas,
Congratulando a imaginação e a embriaguez.

Escondo-me dos meus olhos de condenação,
Para impedir que eu veja o que transmitem.
Recebo de bom grado a vertigem,
Prefiro sagrar-me louco à aflição.

Sofro as dores de quem parte e pouco viveu,
Vivo estou, embora sinta o que já morreu.
Desfaleço em cada momento, á espera de uma luz,
Cegando meus negros olhos – Que a tal morte me conduz.

Sou clandestino de minha fajuta memória,
Não busco ser grande ou reinar a glória.
Sou um simplório amante da loucura,
É mais fácil render-se a padecer com bravura!

Leito de Dor


Desço a rua, sobre pés que não domino.
Deixo-me levar. De domingo a domingo
Vejo as tardes, elas correm no ar,
Sinto no peito a dor, de vê-las passar.
Preencho o vazio que o tempo formou,
Rugas envoltas de um par, que muito chorou.

O sangue é o que pulsa vitorioso.
Inerte em um corpo há muito glorioso,
Tudo se transforma em borrões e uivos.
Dores, que dilaceram a alma.
A pior delas, a mente acalma.
O temor é mais pesaroso,
Corrói, até o sonho mais fervoroso.

Lágrimas secas, o inverno chegou,
A briga ferrenha. Permaneço e não vou.
Preparações contidas, veladas na memória,
Resguardadas e afundadas na parede da glória.
Sobre os olhos, um véu transpassado.
No dia que estes se selarem, viver é passado.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Só, sorte!


Sou de longa data, um seguidor de poeira.
Tenho fé; Acendo vela e também fogueira.
Nos meus pés anfitriões, abrigo o conhecimento,
Já caminhei por tantas estradas, sob a terra e o cimento.

Trago os consolos, que a vida presenteia.
Sou como a aranha, que cedo tece a teia,
Argumento, com meus olhos, a confiança.
Com meu sorriso pleiteio a sorte e a esperança.

Doce, sou. Docemente me transponho.
Não crio juízos e tão pouco me envergonho,
De mostrar ao mundo que sou um viajante
Que levo a vida sobre os ombros, e sou errante.

Há tempos não sou tão moço,
Há tempos me consagro leigo.
Sorrio de meus pulmões e seu esforço
Pranteio a saudade de possuir um leito.

Tenho tantas indagações, pergunto ao pó.
Não tenho outro a quem indagar, vivo só.
E assim, que tarde me alcance a morte,
Pois viver a margem da vida é para quem tem sorte. Só, sorte.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O Moço dos Avisos


Os olhos semicerrados, como os sonhos.
Aprofundados na neblina; Displicência.
Uma armadura espessa, ao medo imponho
Não posso transportar o peso da impaciência.

São pedregulhos, esquinas sombrias e vales.
Recrio-me, destruo e transponho. Preservando meus males,
Atravesso o som das águas, no passado me abrigo.
A nuvem densa, uma cerração de desejos; Maldigo.

Assim como vejo, me sirvo. Nos lábios um gosto frugal.
Nos braços dores, no olhar, irônicos sorrisos.
Permaneço, como um amante do decrépito, do mortal.
A ponte elevadiça, a pedra sobre o rio. O Moço dos Avisos.

A minha frente, pelo caminho tudo é ofuscado.
A irritação definha e me acerta, como um dardo.
Exatamente, quando me compreendo um ser transgressor,
Percebo-me frente à morte, promissora é minha dor.

Não suporto, porém devo permanecer com meu fardo.
Sou sofreado pela inocência que conspira com m’alma
Contenho-me, e sigo caminhando. Sou falho, e tardo.
Espelho-me na condição de humano. Ansiando por calma.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O encontro


Um corpo, sem vida, sem cor.
Lábios intransigentes e secos
Sorrisos duros, faces de dor
Vielas. Ruas. Negros becos.

É como estar de olhos crus,
Estampando aflito o medo
Á vista sonhos nus
Ocultos sob o enredo.

Desde então, parti enfurecido
Domando meu, desconhecido, viver;
Estraçalhando o passado, envelhecido
Encobrindo provas de meu sofrer.

Uma pequena e irrisória despedida
Fez-me ver, sem lucidez, a vivacidade
Crer, que sempre é dia de partida
Deu-me, o fugaz desejo, de felicidade.

“Quem alimenta o desejo de vida, certamente já cruzou com a morte na sua esquina sombria.”
Thaís Milani

Essência Ausente


Corra, vá à longe e esconda-se;
Em um muro, mascara ou sorriso.
Povoe teus olhos com o mais puro aviso
As lágrimas que nele abrigam-se.

Tampe as narinas com odor da descrença.
Asfixie o sonho que nasce na infância.
Impeça a alma de respirar a decência
Mate o desejo e enterre-o com a ânsia.

Cegue teus olhos com o ódio.
Torne a terra imprópria com sódio.
Seque o poço da liberdade, o choro.
Lança-se na lama e usufrua sem decoro.

Compre o sonho que não se concretiza.
Enalteça e enfureça o rancor.
Silencie o lábio que profetiza.
Preencha a vida com dor.

Desabrigue qualquer sentimento.
Deite-se com a morte.
Desrespeite a sorte.
Liberte-se ao vento.

Somente assim sofrerá o luto,
Tornar-se-á astuto,
Aprenderá a crer,
Ensinará a ser.

Desta maneira, quase brutal.
O frágil ser carnal,
Apõe a sua essência,
A necessidade de acrescer a Experiência.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Alma Poeta


Escrevo - pois meus lábios estão privados do canto.
Esta é a maneira mais pura de me proclamar,
Meu verso é a vida de meu pranto,
A minha voz suave a se declarar.

Os pecados de m’alma são supérfluos,
Estão próximos o suficiente para tocar.
Uma parede contém o que é malévolo,
Devo eu a beleza viver e contemplar.

Escrevo - pois as palavras são grandes consoladoras,
Observam atentas e respondem com sabedoria.
Possuem severidade e também melancolia,
São ardentes, auspiciosas; Tentadoras.

O fascínio de meu ser: ter na mão um papel.
Confabular com meu íntimo, selar minha inspiração.
Possuir o lugar, onde eu possa recrear meu céu.
Retirar a venda dos olhos e a poeira da emoção.

Escrevo - pois me reinvento a cada letra, cada verso.
O novo é o que flameja, estimula e completa.
Deito a mão o que o pensamento goteja adverso.
Isso me faz grandioso. Isso me faz poeta.

“Quem possuiu a alma de poeta, aprende a ver beleza até na pestilência.”
Thaís Milani

Monge Apaixonado


Longe.Estou tão só. Tão longe.
Enclausurado em meu próprio mosteiro,
Ajoelhado e prostrado, como um monge.
Teu retrato o meu cilício, meu cativeiro.

Da torre mais alta, observo o mundo guiar-se.
O rio seguir seu curso, o viajante caminhar,
Vejo o céu e seu negrume, aves a proliferar-se.
Contudo, permaneço só. Com seu rosto em meu altar.

Abaixo de meu hábito, esconde-se o ardor.
Habita meu ser, desejo de tocar-te, o mal.
Flameja em meus olhos, teu calor.
Perdoe-me Céus, por amar um ser tão angelical.

Dessa maneira, trucidante. Busco um reencontro.
Não sou mais sã, tampouco santo;
Reconheço em meus olhos a dor do desencontro.
Em minha face, sua partida é doce pranto.

Prostituta


Lá estava ela. Com os mesmos olhos tristes de toda vida,
Formando par com o corpo coberto de dilacerações.
Enterrados e sobrecarregados com tantas feridas
Extravasando no sangue rubro a morte das sensações

Em seu luto encoberto jazia o sonho,
Que os olhos tristonhos amavam entoar
Um resoluto sentimento enfadonho.
De vez ou outra ser adorada e ensinada a amar.

Era moça de sorrisos, com a alma de pescador,
Margeando o rio da felicidade com um barquinho de papel.
A menina delicada, com o rosto coberto pelo véu do ardor
Vivendo das graças e desonras da Senhora do Bordel.

Uma morte rude e irônica, a partida mal chorada.
Abrigado na Terra dos Desejos há um corpo em distinção,
Maldito e pecaminoso, descansando na despedida pouco lamentada.
Da moçoila que não possuía restrição.

O enterro vazio, com precários frequentadores e uma vaga lamentação,
Encerrava a abrasadora vivência de um ser ávido por compreensão.
Entregue ao sopro da luxúria, ostentando a esperança,
De que alguém com que partilhou a cama, lhe carregue na lembrança.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Segundo a Segunda


Hoje é segunda; Segura minha mão.
É dia de maria e dia de joão.
Segunda-feira, primeira desilusão
Algo de errado meu irmão?

Não é o fim do mundo
Só o começo do mês.
A primeira segunda.
Ainda me faltam três.

Tenho o sorriso de poeta,
Enquadrado em meu olhar
Mas na segunda, tudo é esperar.
Sentando em um banco; Tudo é estar.

Me contam, abstratos de vidas pacatas
Seria muita ousadia?
Se dissesse que hoje não é dia,
Que a vida está parca.

O que me dizes é notícia de segunda.
Que dobra a esquina, em bordô de costureira
Notícia de Joana, a velhota de grossa bunda.
Que comenta de todos, por beira.

Corrimãos dessa feira, são pequenas perdições
Em dia como tal, não há grandes feições,
Segunda é dia ganhar a guerra.
È dia de chorar o pranto e também lavrar a terra.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Flor


Por ande andavas,
Tu, ó Flor, que eu plantei,
Por qual trilha caminhavas
Procurei-te e não avistei.

Por que tu não retornas
ao meu belo jardim?
Para eu regar-te e amar-te
Como desejavas no fim.

Pois, que erro cometo eu
Se não tenho boas mãos de jardineiro?
Se ao tocar no broto, nasce logo um brotoejo.
Correrei para o teu lar, onde encontro paradeiro?

Desde o fim de nossa primavera
Venho eu sofrendo a míngua, mágoas da paixão.
Nas águas que rolam do rosto, encontro a solidão.
Nas águas quem descem do morro, marcas que restarão.

Mãe Celeste


Tu que és como eu.
Com faces ocultas e intransponíveis,
Quando só, inerte no breu.
Presa a fios intransigíveis.

Flutua, com mãos divinas a te firmar
Me observa, em noites frias e vagas,
Acalenta, tortura e afaga
Amante do céu, prisioneira do mar.

Cubra-me com teu manto brumoso.
Anseio por teu olhar piedoso,
Sofro, quando nuvens a cegam.
Morro, quando olhos te negam.

Tu, que para mim és como o véu.
A raínha, a dama do céu.
A chama dos amantes,
Luz nas noites errantes.

Dá-me tua graça. Dá-me teu explendor,
Derreta minha alma com teu brilho.
Compadeça-te deste pobre andarilho.
Encha o vazio com teu amor.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Canta Jurema, canta!


Jurema, era o nome que avançava pela rua
Deixando muitos a cantarolar
Vindo de banda, completamente alienada
Jurema tocava a todos, sem nada tocar.
Colocava a boca no trombone
Adorando ouvir o som grave escapar.
Seu instrumento preferido era a pervesão
Ao seu doce toque, acelerava coração.
Todos requebravam ao seu caminhar
Desde cedo ela gostava
De cantar à vizinhança
Por causa de tal talento
Foi abandonada quando criança
Lançada ao vento
Batucou o despudor
Áh... Jurema, como danças com explendor.
A sua música era forte
Desbancava trovador
E quando ela cantava
Ouvia-se, "mais, mais meu amor"
Tantos homens ja uivaram
Durante o seu cantar
Poucos homens, de sorte
Receberam sem pagar.
Ouvindo noite a fora, sua gaita soar.
Ela tinha um dedilhado
que ninguém fazia igual
Arrancava melodia
Até de varetas de pau.
Coçava para baixo - Quando lhe pedia
Coçava para cima - Quando o desejo ardia.
Jurema era música, de alma
Jurema era cantora, de palma
Jurema não tinha carteira assinada.