terça-feira, 24 de maio de 2011

Estatuária


Escureci, e névoa se espalhou,
Estático, como sempre estive.
Espiando meus pecados no espelho.

Espectro do que se esperava,
Esquivo de sua essência.
Escudeiro da experiência!

Espectador alheio e especioso.
Espreitando a morte do esplendoroso,
Esperançoso de que irá estancar.

Espartano de espírito!
Esmorecendo pela estrada.
Espada em punho e coroa de esmeralda.

Esfacelo a alma, estarrecida.
Escuto a indagação da Esfinge,
Esmagando minha mente estremecida.

Estorvo, meus olhos estonteiam.
Estupor, que atinge como estrepe,
Esvaeço meu ser, preciso de estepe.

Estilhaços recompostos pela espátula.
Estigmas, pelo tempo estampados.
Estéril, infértil. Sou uma estátua!

Bom dia


Hoje acordei assim, um pouco de mundo, um pouco de mim.
Pensando onde já estive e por que parei aqui - é o fim?
Na esquina sombria da alma, com uma indagação!
Eu, que já foi príncipe e vilão. Estou estático, sem ação.

Todos os dias quando acordo, sou novo e sou velho.
Uma antítese sobre pernas, que sonha e deseja,
Nego-me e aceito, esse é o meu evangelho.
Traio meus antigos sonhos por novos, e que assim seja.

Descubro em mim, as melhores armas para usar na guerra.
Escondo os pré-conceitos; O medo caí por terra.
E desta forma, desvaria e inconsequente vou me recriando
Em territórios nunca dantes desbravados, estou caminhando.

Hoje acordei assim, um pouco menor, um pouco maior.
Diminuí em minha descrença, indiferença, na dor e ilusão.
Aumentei minha coragem, sabedoria, alegria e valor,
Tomei-me uma peça rara, de minha própria coleção.

Todos os dias quando acordo, sou futuro e passado,
Um verbo conjugado em duas direções, lado a lado
Eu que sempre expiei meus pecados, sobre o pó
Estou me sentido cinza, estou me sentindo só.

Descubro em mim, a melhor arma para contratempos:
Amar meus erros, pois deles me farei mais amável.
Estou entendendo, de vagar, que para tudo existe o tempo.
E aos poucos, como grãos semeados; Estou me tornando inabalável.

sábado, 21 de maio de 2011

Senhor Marinheiro


O que dizes marinheiro,
Em teu convés derrama água?
Seja forte guerrilheiro,
Não te afundes em mar de mágoas.

Abra as velas, sob o astro escandaloso,
Permita que o vento abrace tua causa,
Esqueças por um instante vosso calabouço
Experimente as ondas, ame-me sem pausa.

Prenda-me, com o forte braço, em tua haste.
Eu estarei flutuando no céu. Extasiada.
Senhor marinheiro, que em minha vida comandaste!

Se achates conveniente, lance-me ao mar,
Um grande peixe será minha morada,
Todavia, saiba meu senhor, não é pecado amar.

Antes que a maré me tenha, permita-me confessar,
Calarei meus sussurros, não sei se o que digo agrada:
Foste tu o único marinheiro, em minhas águas navegar.

sábado, 14 de maio de 2011

Brancura


Não há o que escrever,
Minha mente está calada.
Dialogou anos a fio,
Jamais disse nada.

Fagulhas povoam o inferno de palavras.
Elas vagueiam sob a fumaça,
Não consigo ver.
Perdi-me na névoa, a astúcia está escarça.

O choro de nada me servirá.
Tampouco toda sabedoria que acumulei,
Consenti à bruma me envolver.
Agora, que estou cego e mudo, ouvirei.

A menina


Ela tem graciosidade, salpicada de vaidade.
Sorri envergonhada, com maçãs enrubescidas.
Está farta, aflita, com a mente em embate,
Porém, continua afoita, sozinha. Tão pobre, tão covarde.

Pede licença, para caminhar entre a multidão.
Mal percebe que está só, e diminuta como um anão,
Sendo sufocada pela respiração de outrem,
Entretanto, persevera constrangida, abatida. Sem asas, sem chão.

Ela chora, silenciosamente, como um rio.
Desespera-se com a verdade de seus olhos,
Sente-se perdida, enraivada, feito fogo em pavio,
Contudo, assente a dor, engole a fúria. Não há velas, não há navios.

Tem olhos dentro do espelho; Estes não lhe pertencem.
Leva a mão aos secos lábios, onde a alma emudece,
Seu olhar é dúbio, de esguelha e tristonho.
Todavia, sobrevive; Faz bater o coração. Tão sozinho, tão enfadonho.

Ilusão imposta



A ilusão é o ar, que faz do peito inflado vivo,
Que trás luto à morte,
Mostra o quanto sou impetuoso; E sobrevivo.

A crença no intocável é a arma mais arguta,
Que sobrepõe a sorte,
Faz da lida, menos luta.

É possível que tarde eu tropece em meu sonho,
Que a mente suporte,
Não somente a esperança, mas tudo que me imponho.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Eu


Serei a luz sobre teus olhos
O ar a inflar teus pulmões,
Sobre o fio serei a tensão
A Dalila, de Sansão.

As chagas a roer teu peito.
A insônia na escuridão da noite,
O tarol a ressoar em teus ouvidos
Serei teus gritos, teus rugidos.

E seu corpo clamará por minhas mãos gélidas.
Pedirá em misericórdia para ouvir minha voz,
Teus pelos eriçados por minha ausência.
Serei teu calor, tua indecência.

Ame-me, pois neste momento.
Antes que o deixarei, a me desejar.
Toca-me em quando não me recuso,
Depois estarás perdido, estarás em desuso.