sábado, 26 de maio de 2012

O flúmen



Ao som, que os olhos produzem no piscar silencioso,
Ponho-me a sopesar, sem alento e sem pudor.
Sou um flúmen de calor, ardente e auspicioso.
Uma chama que consome o ar, o amor.

E quando o frio, refuta-me em arrepios,
Padeço de desejo, como a pólvora em pavios.
O ar infla meus peitos, rosados e endurecidos.
Irrigando o sangue; fervoroso, enrubescido.

Eu vou me inundando; afogando-me em vontades,
Entregando-me, sem querer, aos devaneios.
Tão vaidosa, e aflita, mergulhada em lisonjeio.
Desprovida de caricias, de lealdade.

Amargando o silêncio nebuloso, e solitário.
Sinto que refugio um caudaloso rio de excitações.
Uma correnteza que não posso conter. Meu calvário!
E fico umedecida, enlouquecida; atormentada de sensações.

Quanto mais tento conter minha grandiosa fonte límpida,
Maior, descubro ser, o volume dos lençóis que a compõe.
É tanto frenesi a ser escoado, tanto líquido que dispõe.
Que não há mar na terra que o comporte; e me mantenha acolhida!

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Luz de Ceifador


Olhos que reportam a alma,
Não notem o degredo que a mim rodeia.
Mantenham-se afastados os males da calma,
Cerrem-se para a luz que os incendeia.

Lágrimas, assíduas companheiras dos olhares,
Porque ensejos fazem recoar meus sentidos?
Tens sido ácidas para os amores,
Mantendo-os frios, adormecidos.

Pois, o que tens compreendido as pupilas?
Tantas preleções frequentaram; na noite; ao dia.
Sortidas em meio à negritude das vilas,
Enlaçando calúnia, amargura e arrelia.

Olhos que condicionam meu ser,
O que vedes é o prelúdio do tormento.
Mantenham-se voltados para o alvorecer.
Apartam-se para luz que os dará alento.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Tributo a Camões


Navego em meus conceitos vãos,
Atropelando devaneios, dores e sensações;
Temo em ter perdido a sutileza da alma.
Deflagro-me. Dispo-me. Sôfrego por ilusões.

Meus olhos repreendem meus fluidos,
Úmidos, de vagas e supérfluas emoções.
A brisa beija-me secamente. Recobra você.
O que defraudou nossa coragem; Ações?

O céu preenche-nos com sua bruma cinzenta.
Sento a ver a nau cruzar o mar de decepções.
A nostalgia há tempos é minha melhor companhia.
Rebentações. Ondas. Marés de abdicações.

Ponho-me a observar a insensata calmaria.
Tomo o timão e não vejo perspectiva de direções.
Aspiro o ar salgado do Oceano Solidão.
À frente o abismo; Vejo com olhos de Camões.

“Os bons vi sempre passar. No mundo graves tormentos; E para mais me espantar. Os maus vi sempre nadar. Em mar de contentamentos.”
Luiz de Camões