
Os sons altos e arfantes
As ruas inundadas;
Domicílio de mendicantes
Dentre tantos ruídos
tem-se um destaque,
no meio dos diversos sotaques.
O choro grave e circular
de seres ditos humanos,
que nascem e morrem sem lar.
Os semblantes aflitos
nos rostos imundos
Vagueando veem marias, joãos e raimundos.
Assentados no frígido chão
Auferem calor de um frágil jornal,
Exprimindo em seus corpos a tragédia semanal.
Seres quietos e doentios
Braços alarmantes e galgazes
espíritos carentes e vadios
Diante da sociedade consomem
vivem em alcatéias;
“o homem é o lobo do homem”
Sorrisos reluzem enegrecidos
Impolidos e esquecidos
pela ausência do uso
Á noite a morte é lenta,
o frio agrega e desagrega
Não vive, contudo, tenta.
Há fome e choro,
Há cadeia e roubos,
nas ruas a morte, vem do estouro
Não importa o quanto ames
o ódio sobrepõe-se
Não há família, pais ou mães?
As mãos estendidas
não buscam riqueza, tão pouco ouro
Serem ao menos vistos, é seu tesouro.
As mãos juntas
É apenas o grito estridente,
de gente, que quer ser gente.
Os olhos lacrimejando
São só vestígios
da humanidade se enfastiando
Os olhos contraídos
São sintomas da dor
que aflige o espírito e mata o amor.
Os pés encolhidos
diminuem o ser
Se tornando invisível, a perecer.
Os pés calejados
de tanto caminhar
à procura no sol, de seu lugar.
A alma... há muito se foi,
Vagando na cidade
Lançou-se em liberdade.
Em um dia chuvoso
o corpo se vai
Descendo ao chão, esplendoroso.
O choro se cala, abaixo da terra
completa-se a invisibilidade,
Acabou a guerra.
Em um dia de ais
o corpo se vai
As mãos algemada, pendidas para trás.
Na cela apertada o choro se perde
entre tantos outros esquecidos
Invisível o homem, desfalecido.
O grito silencioso da cidade,
discreto entre o caos
_Perdeu-se o amor e a caridade.
O grito silencioso da cidade,
parte do homem invisível
_Morte da sociedade?
O grito silencioso da cidade
vem do fim deste homem
_Perdeu-se a humanidade!
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