domingo, 11 de julho de 2010

Homem Invisível



Os sons altos e arfantes
As ruas inundadas;
Domicílio de mendicantes

Dentre tantos ruídos
tem-se um destaque,
no meio dos diversos sotaques.

O choro grave e circular
de seres ditos humanos,
que nascem e morrem sem lar.

Os semblantes aflitos
nos rostos imundos
Vagueando veem marias, joãos e raimundos.

Assentados no frígido chão
Auferem calor de um frágil jornal,
Exprimindo em seus corpos a tragédia semanal.

Seres quietos e doentios
Braços alarmantes e galgazes
espíritos carentes e vadios

Diante da sociedade consomem
vivem em alcatéias;
“o homem é o lobo do homem”

Sorrisos reluzem enegrecidos
Impolidos e esquecidos
pela ausência do uso

Á noite a morte é lenta,
o frio agrega e desagrega
Não vive, contudo, tenta.

Há fome e choro,
Há cadeia e roubos,
nas ruas a morte, vem do estouro

Não importa o quanto ames
o ódio sobrepõe-se
Não há família, pais ou mães?

As mãos estendidas
não buscam riqueza, tão pouco ouro
Serem ao menos vistos, é seu tesouro.

As mãos juntas
É apenas o grito estridente,
de gente, que quer ser gente.

Os olhos lacrimejando
São só vestígios
da humanidade se enfastiando

Os olhos contraídos
São sintomas da dor
que aflige o espírito e mata o amor.

Os pés encolhidos
diminuem o ser
Se tornando invisível, a perecer.

Os pés calejados
de tanto caminhar
à procura no sol, de seu lugar.

A alma... há muito se foi,
Vagando na cidade
Lançou-se em liberdade.

Em um dia chuvoso
o corpo se vai
Descendo ao chão, esplendoroso.

O choro se cala, abaixo da terra
completa-se a invisibilidade,
Acabou a guerra.

Em um dia de ais
o corpo se vai
As mãos algemada, pendidas para trás.

Na cela apertada o choro se perde
entre tantos outros esquecidos
Invisível o homem, desfalecido.

O grito silencioso da cidade,
discreto entre o caos
_Perdeu-se o amor e a caridade.

O grito silencioso da cidade,
parte do homem invisível
_Morte da sociedade?

O grito silencioso da cidade
vem do fim deste homem
_Perdeu-se a humanidade!

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